terça-feira, 29 de março de 2011

O partido dos "Verdadeiros Finlandeses" conduz o país à xenofobia

Philippe Pons, Le Monde

Os imigrantes somalis se tornaram uma questão essencial do debate político. São 7.100 deles, em uma população de 5,3 milhões de habitantes

Os populistas do partido dos Verdadeiros Finlandeses (Perussuomalaiset, PS) estão agitando a Finlândia a quatro meses das eleições legislativas de abril de 2011, brandindo a bandeira do temor dos estrangeiros em um país que, no entanto, tem muito poucos deles. Uma pesquisa publicada no início de dezembro pelo jornal “Helsingin Sanomat” atribuía 15,4% dos votos ao PS. O partido de Timo Soini agora segue de perto três partidos que dividem o poder há anos, centristas, conservadores e social-democratas, todos entre 18% e 20%. O PS tem cinco deputados hoje, e poderá ter treze se os números se confirmarem.

O partido, que capengava havia quinze anos, despontou nas eleições europeias de 2009 em razão do sucesso pessoal de Timo Soini, “um ótimo demagogo”, observa o cientista político Lauri Karvonen. Ele prosperou tendo por pano de fundo a crise da dívida da Grécia, dizendo que não cabia aos finlandeses pagar pelos erros dos gregos. Ele também aproveitou o escândalo do financiamento dos partidos políticos na Finlândia, que provocou a demissão do primeiro-ministro Matti Vanhanen na primavera. Ele faz a caveira dos estrangeiros, especialmente dos refugiados somalis, que se tornaram uma questão central no debate político finlandês. Um dos membros dos Verdadeiros Finlandeses, Jussi Halla-Aho, autor de um blog popular, foi condenado este ano por ter descrito os solicitadores de asilo como africanos estupradores ou parasitas que vivem nas costas dos contribuintes.

“Não é verdade que sejamos de extrema direita”, explica Seppo Huhta, consultor de mídia, conselheiro regional de Helsinki, membro do comitê diretor do PS e candidato às eleições de abril. “Preocupo-me sobretudo com os crescentes abismos entre ricos e pobres. Mas somos críticos contra os muçulmanos que querem continuar a viver aqui como se ainda estivessem no Chifre da África. Muitos finlandeses estão furiosos porque dão a eles muito dinheiro. Sobretudo àqueles que vêm da Somália”.

Porém, é difícil considerar a Finlândia como uma terra receptiva e imaginar que os somalis representam um problema como esse. Durante a guerra fria, por causa da política de neutralidade, a Finlândia recebia muito poucos estrangeiros. Eram somente 12 mil deles nos anos 1980. A configuração mudou após o fim da União Soviética. Em 1991, 13 mil estrangeiros chegaram de uma só vez. Um tsunami, para o porte da Finlândia. Hoje, a Finlândia conta com 155 mil pessoas nascidas no exterior, ou seja, 3% da população (5,3 milhões de habitantes). Entre elas, 54 mil vêm da ex-URSS, 31 mil da Suécia, 22 mil da Estônia.

Os somalis, que segundo o PS representam a maior ameaça contra a ameaça finlandesa, são... 7.100. “Os finlandeses, inclusive os jornais, falam dos estrangeiros como se todos eles pedissem asilo, ao passo que estes representam somente um pequeno número”, lamenta Eva Lindberg, diretora do Centro de Aconselhamento aos Refugiados, que, além de tudo, constata que afinal há pouca diferença de abordagem entre os diversos partidos políticos.

Os somalis chegaram em peso no início dos anos 1990, uma época em que o país atravessava uma crise econômica dramática. Entre eles, o desemprego continua muito mais elevado que para os finlandeses em geral.

Abdishakur Moalin foi um dos primeiros a chegar, em 1990. Ele tinha então 24 anos. Eleito “pai do ano 2010” por uma organização finlandesa, ele trabalha desde 1995 com crianças e vive na região de Helsinki. “Nossa chegada, a dos primeiros somalis, foi como um choque para os finlandeses. Não havia estrutura para nos receber”, diz. Vinte anos depois, e apesar do desemprego que atinge boa parte deles, Moalin não reconhece sua comunidade na descrição feita pelo PS. “Em Helsinki, você verá somalis motoristas de táxi ou de ônibus, professores, funcionários da Nokia”, explica. “Não sei o que os finlandeses querem dizer quando falam que os somalis não se integram. Eu, pelo menos, não tenho nada de negativo a dizer sobre a Finlândia”.

No entanto, em 2009 a polícia constatou um forte aumento nos crimes raciais, um número 17% maior em relação a 2008. Os somalis são as principais vítimas.