quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Salvem-nos (dos) EUA - parte 2

Vida de photoshop
O que a Lisbeth Salander de Hollywood não dirá sobre nós
ELIANE BRUM
 Reprodução
ELIANE BRUM
ebrum@edglobo.com.br
Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).
Assisti na semana passada ao filme baseado no primeiro livro da trilogia Millennium, do sueco Stieg Larsson: “Os homens que não amavam as mulheres”. Como milhões de pessoas no mundo inteiro, fui capturada por Lisbeth Salander, a perturbadora (e perturbada) hacker que desvenda nossa sombria humanidade (e alguns crimes) em parceria com o jornalista idealista Mikael Blomkvist. Sou fascinada por literatura policial e li os três volumes quase de uma vez só. O autor, um jornalista que morreu de enfarte antes de ficar milionário, conseguiu criar algo que poderia ser considerado um dos primeiros romances policiais pós-modernos. Ao começar a assistir ao filme, porém, tive um estranhamento. E foi um ótimo estranhamento.


O filme, falado em sueco, é uma produção conjunta da Suécia, Dinamarca e Alemanha. Logo de cara, eu me surpreendi com o ator que interpreta Blomkvist. O ator Michael Nyqvist é charmoso, mas tem cicatrizes de acne no rosto e barriguinha de sedentário. Em seguida, estranhei as rugas de Erika Berger, a sócia (e amante) de Blomkvist na pequena e combativa revista Millennium. Na sequência, me espantei com a acanhada redação da revista. Eu imaginava um conjunto pequeno, mas estiloso e muito moderno. E assim segui, de estranhamento em estranhamento. À primeira vista, só aprovei Noomi Rapace, a atriz que interpreta Lisbeth Salander, muito jovem no livro e no filme. E bem mais bonita no filme do que sua descrição no livro.


Até que compreendi (por sorte no início do filme). Era isso! Enquanto lia os livros, eu havia imaginado os personagens. Normal, nunca será como a gente imagina. A questão é que minha imaginação está condicionada pelos blockbusters de Hollywood. No livro, fica claro que Blomkvist está fora de forma. Que a revista luta com dificuldades financeiras. Que Erika é uma mulher que passou dos 40. E assim por diante. Mas eu imaginava um filme de Hollywood, onde os heróis têm barriga tanquinho, as mulheres chegam aos 60 com carinha de 30 e a pobreza tem estilo. Até as marcas, quando existem, são estetizadas.


Vejo muitos filmes que não atendem à estética dos blockbusters de Hollywood, óbvio. E até alguns de Hollywood que não se curvam ao modelo vigente. Mas são filmes que versam sobre outros temas. Quando vou assistir a um filme francês, alemão, japonês, coreano, iraniano, israelense, brasileiro etc, sei que vou ver gente normal, gente com marcas. Mas uma história policial com vocação de blockbuster, hoje, é quase sempre produzida por Hollywood. Neste escaninho do filme policial, de suspense, de ação, as imagens já vêm à minha cabeça no formato Hollywood.


Foi assustador perceber o quanto esta estética condiciona a minha imaginação, está entranhada no meu cérebro, apesar do meu constante questionamento. Eu já tinha um filme de Hollywood na minha cabeça quando fui assistir a um filme sueco, baseado num livro que se passa na Suécia, escritor por um autor sueco, com personagens que são cidadãos suecos.


Desconfio que o filme não fez tanto sucesso por aqui por causa desse estranhamento. Achei o filme bastante bom. Acompanho agora, nos sites e blogs especializados, a expectativa pela produção hollywoodiana da trilogia, com comentários como: “agora sim, a obra terá a adaptação que merece” ou “a trilogia está salva”. Para o papel de Blomkvist, especula-se com os nomes de Brad Pitt e George Clooney, entre outros. Agora sim, teremos um jornalista mais sedentário do que gostaria, fumante, passado dos 40, sem marcas e sem barriga, com muitos músculos e todos no lugar. Para encarnar Lisbeth Salander, uma garota de 20 e poucos anos com corpo de 12, esquisita, desajustada, muito longe de qualquer padrão de beleza, já foram cogitados os nomes de Kristen Stewart, Natalie Portman, Anne Hattaway, Carey Mulligan e até Scarlett Johannsson, entre outras. Com certeza, quando for lançada, a versão hollywoodiana fará muito mais sucesso que a sueca. A maioria de nós terá a sensação de que finalmente está tudo no seu lugar.


Mas a verdade é que está tudo fora do seu lugar – e não da forma que nos leva a algum lugar, mas da forma que nos deixa na mesma.


A estética que impera em Hollywood tem o mesmo sentido da que domina as novelas brasileiras e as revistas de celebridades. Vivemos em um país de gente cheia de cáries e falhas nos dentes ainda hoje. Mesmo quem cuida bem da sua boca – e tem dinheiro para bons dentistas – não envelhece sem ver seus dentes se gastarem e amarelarem. Mas atores e atrizes, jornalistas e apresentadores, todos que aparecem na TV, exibem uma dentadura de comercial de creme dental. Minha dentista me conta que as pessoas aparecem no consultório com capas de revista na mão, dizendo: “Eu quero dentes iguais a estes”.


Fico imaginando um historiador, no futuro, revirando os arquivos da imprensa do início do século XXI. Ele vai ler uma tonelada de páginas, impressas e virtuais, sobre celulite, por exemplo. Mas vai ter muita dificuldade para descobrir por que a celulite era uma questão para as mulheres desta época, já que não vai encontrar uma única criatura do sexo feminino com celulite. Quem aparece é linda, magra e mantém o corpinho liso, “sem o famoso efeito casca de laranja”, à custa de um pouco de malhação e alimentação saudável. Algumas nem gostam de fazer ginástica, é puro dom da natureza. O historiador do futuro vai estar diante de um enigma digno da esfinge do mito de Édipo: a celulite é uma grande questão para a mulher do início do século, mas nenhuma mulher tem celulite.


As celulites só aparecem quando se trata de “denunciar” uma celebridade que foi flagrada por um paparazzi em estado natural. Neste caso, para ser ridicularizada. Ahá, te peguei, você é igual a mim. Vingança. De novo, um pesquisador que analisar nossa época vai ter problemas, porque não vai saber qual é a imagem verdadeira: a que passou pelo photoshop e está em todas as capas – ou esta, que se apresenta como um flagrante.


Os documentos que deveriam ser testemunhos do nosso tempo estão quase todos “photoshopados” desde que as fotografias se tornaram digitais e passaram a ser manipuladas, retocadas para eliminar marcas e imperfeições ou alteradas para imprimir determinado efeito. “Tratadas”, no eufemismo do jargão. Até as fotos de políticos, empresários e jogadores de futebol em geral passam pelo photoshop, para melhorias aqui e ali. Embora existam uns poucos órgãos da mídia que resistem, a maioria se rendeu aos retoques da realidade.


Basta conversar com colegas em diferentes redações – e não apenas nas de revistas de celebridades – para descobrir que o tamanho da foto e o espaço do personagem na matéria são definidos cada vez mais em função de sua beleza e juventude. Para um feio ou velho virar capa, em boa parte das publicações ele tem de ter feito um sucesso estrondoso. Ou ser tão famoso ou tão rico que se tornou bonito ou sem idade. E os bonitos e jovens ficam mais bonitos e jovens ainda por obra do photoshop.


Alguns jornalistas contam que chegam das entrevistas e o editor lhes pergunta: “Mas fulana é bonita, rende abertura de matéria ou capa?”. Ou, depois de conferir a foto: “É muito feia, não dá para botar na matéria. Não resolve nem com photoshop!”. E, se não for bonita, “não vende”. Em algumas redações, criou-se inclusive a exigência de que o repórter faça uma foto do entrevistado com seu celular, para que o editor possa avaliar se está dentro dos padrões de beleza e juventude exigidos. Alguns desses colegas entram em crise quando percebem que já introjetaram o modelo e começam filtrar os entrevistados também pela aparência – e não apenas pela relevância do que têm a dizer.


Estou falando agora não mais de Hollywood ou de telenovelas, mas de jornalismo, cuja busca da verdade é um dos pilares mais fundamentais. E poucas coisas podem ser mais verdadeiras – ou falsas – que a imagem e a escolha da imagem. Tive a sorte de nunca ter sido pressionada a fazer esse tipo de escolha – e a serenidade de saber que, se fosse, não aceitaria.


Tudo isso revela alguns caminhos por onde um tipo de olhar vai impregnando nosso modo de ver o mundo, aos outros e a nós mesmos. A cada dia nós vamos às ruas e enxergamos a realidade e as pessoas como elas são. A cada manhã nos olhamos no espelho e encaramos nossas marcas. Mas cada vez mais acreditamos e esperamos que exista uma outra imagem do mundo – e uma outra imagem de nós mesmos. Uma que não tem marcas, não engorda e não envelhece. E começamos a acreditar que esta é a imagem mais verdadeira.


Sofremos não pelo que somos, mas pelo que deveríamos ser e nunca seremos, por mais caros que sejam os cremes, mais sofisticadas e invasivas as cirurgias plásticas. Mesmo assim, passamos a medir nossa vida – ou nosso sucesso na vida – por essas duas imagens que jamais se tornarão uma. Passamos a acreditar que o que deveríamos ser – e não o que somos – é nossa versão mais verdadeira. Emprestamos verdade à imagem “photoshopada” dos homens e mulheres das capas das revistas. E falsidade ao nosso rosto no espelho. Como não inventaram um photoshop da vida, sofremos. E nos vemos sempre aquém do melhor de nós mesmos.


O que nem todos percebem é que, por mais que a indústria do entretenimento, a publicidade e, em alguns casos, também o mau jornalismo, tentem nos convencer do contrário, só há um jeito de não ter marcas: não viver. O vivido se inscreve em nós pelas marcas, as físicas e as psíquicas. Elas são o inventário de nossa vida. A prova de que vivemos.


Por isso temo pela versão de Hollywood da trilogia Millennium. Não tenho a menor dúvida de que será bem produzida. Mas, talvez, bem demais. A curta obra de Stieg Larsson conquistou o sucesso que tem porque o escritor criou personagens com muitas marcas da vida. Que ecoam em nós porque nos perturbam, porque nos reconhecemos neles. A mais jovem desses personagens, Lisbeth Salander, tem tantas marcas psíquicas na alma, que precisou tatuar no corpo marcas com as quais pudesse se identificar e, então, pertencer mais a si mesma. Ela, que foi violada e arrancada de si mesma de tantas maneiras, a ponto de não ter nem a tutela da própria vida.


Assim, é sempre possível apaziguar a alma à espera da próxima redenção de Hollywood. É como tantos de nós têm vencido os dias. Mas, se quisermos ter uma vida de photoshop, só há um jeito (e não é o bisturi): morrer ao nascer.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Salvem-nos (dos) EUA - parte 1

"The Daily Show", programa do Comedy Central, gravou em Estocolmo para comparar a Suécia aos EUA, devido à alarde da mídia estadunidense e dos republicanos quanto aos EUA estarem se tornando um estado comunista "como a Suécia".

As conclusões são hilárias. Se você entende inglês, serão 9 minutos bem gastos:



The Stockholm Syndrome Pt. 1






domingo, 31 de outubro de 2010

Como a classe média alta brasileira é escrava do “alto padrão” dos supérfluos

SÁB , 30/10/2010, Revista Época, Blog Mulher 7 por 7, seção Mulheres no Mundo por Adriana Setti

No ano passado, meus pais (profissionais ultra-bem-sucedidos que decidiram reduzir o ritmo em tempo de aproveitar a vida com alegria e saúde) tomaram uma decisão surpreendente para um casal – muito enxuto, diga-se – de mais de 60 anos: alugaram o apartamento em um bairro nobre de São Paulo a um parente, enfiaram algumas peças de roupa na mala e embarcaram para Barcelona, onde meu irmão e eu moramos, para uma espécie de ano sabático.


Aqui na capital catalã, os dois alugaram um apartamento agradabilíssimo no bairro modernista do Eixample (mas com um terço do tamanho e um vigésimo do conforto do de São Paulo), com direito a limpeza de apenas algumas horas, uma vez por semana. Como nunca cozinharam para si mesmos, saíam todos os dias para almoçar e/ou jantar. Com tempo de sobra, devoraram o calendário cultural da cidade: shows, peças de teatro, cinema e ópera quase diariamente. Também viajaram um pouco pela Espanha e a Europa. E tudo isso, muitas vezes, na companhia de filhos, genro, nora e amigos, a quem proporcionaram incontáveis jantares regados a vinhos.


Com o passar de alguns meses, meus pais fizeram uma constatação que beirava o inacreditável: estavam gastando muito menos mensalmente para viver aqui do que gastavam no Brasil. Sendo que em São Paulo saíam para comer fora ou para algum programa cultural só de vez em quando (por causa do trânsito, dos problemas de segurança, etc), moravam em apartamento próprio e quase nunca viajavam.


Milagre? Não. O que acontece é que, ao contrário do que fazem a maioria dos pais, eles resolveram experimentar o modelo de vida dos filhos em benefício próprio. “Quero uma vida mais simples como a sua”, me disse um dia a minha mãe. Isso, nesse caso, significou deixar de lado o altíssimo padrão de vida de classe média alta paulistana para adotar, como “estagiários”, o padrão de vida – mais austero e justo – da classe média europeia, da qual eu e meu irmão fazemos parte hoje em dia (eu há dez anos e ele, quatro). O dinheiro que “sobrou” aplicaram em coisas prazerosas e gratificantes.


Do outro lado do Atlântico, a coisa é bem diferente. A classe média europeia não está acostumada com a moleza. Toda pessoa normal que se preze esfria a barriga no tanque e a esquenta no fogão, caminha até a padaria para comprar o seu próprio pão e enche o tanque de gasolina com as próprias mãos. É o preço que se paga por conviver com algo totalmente desconhecido no nosso país: a ausência do absurdo abismo social e, portanto, da mão de obra barata e disponível para qualquer necessidade do dia a dia.


Traduzindo essa teoria na experiência vivida por meus pais, eles reaprenderam (uma vez que nenhum deles vem de família rica, muito pelo contrário) a dar uma limpada na casa nos intervalos do dia da faxina, a usar o transporte público e as próprias pernas, a lavar a própria roupa, a não ter carro (e manobrista, e garagem, e seguro), enfim, a levar uma vida mais “sustentável”. Não doeu nada.


Uma vez de volta ao Brasil, eles simplificaram a estrutura que os cercava, cortaram uma lista enorme de itens supérfluos, reduziram assim os custos fixos e, mais leves,  tornaram-se mais portáteis (este ano, por exemplo, passaram mais três meses por aqui, num apê ainda mais simples).


Por que estou contando isso a vocês? Porque o resultado desse experimento quase científico feito pelos pais é a prova concreta de uma teoria que defendo em muitas conversas com amigos brasileiros: o nababesco padrão de vida almejado por parte da classe média alta brasileira (que um europeu relutaria em adotar até por uma questão de princípios) acaba gerando stress, amarras e muita complicação como efeitos colaterais. E isso sem falar na questão moral e social da coisa.


Babás, empregadas, carro extra em São Paulo para o dia do rodízio (essa é de lascar!), casa na praia, móveis caríssimos e roupas de marca podem ser o sonho de qualquer um, claro (não é o meu, mas quem sou eu para discutir?). Só que, mesmo em quem se delicia com essas coisas, a obrigação auto-imposta de manter tudo isso – e administrar essa estrutura que acaba se tornando cada vez maior e complexa – acaba fazendo com que o conforto se transforme em escravidão sem que a “vítima” se dê conta disso. E tem muita gente que aceita qualquer contingência num emprego malfadado, apenas para não perder as mordomias da vida.


Alguns amigos paulistanos não se conformam com a quantidade de viagens que faço por ano (no último ano foram quatro meses – graças também, é claro, à minha vida de freelancer). “Você está milionária?”, me perguntam eles, que têm sofás (em L, óbvio) comprados na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, TV LED último modelo e o carro do ano (enquanto mal têm tempo de usufruir tudo isso, de tanto que ralam para manter o padrão).


É muito mais simples do que parece. Limpo o meu próprio banheiro, não estou nem aí para roupas de marca e tenho algumas manchas no meu sofá baratex. Antes isso do que a escravidão de um padrão de vida que não traz felicidade. Ou, pelo menos, não a minha. Essa foi a maior lição que aprendi com os europeus — que viajam mais do que ninguém, são mestres na arte do savoir vivre e sabem muito bem como pilotar um fogão e uma vassoura.


PS: Não estou pregando a morte das empregadas domésticas – que precisam do emprego no Brasil –, a queima dos sofás em L e nem achando que o “modelo frugal europeu” funciona para todo mundo como receita de felicidade. Antes que alguém me acuse de tomar o comportamento de uma parcela da classe média alta paulistana como uma generalização sobre a sociedade brasileira, digo logo que, sim, esse texto se aplica ao pé da letra para um público bem específico. Também entendo perfeitamente que a vida não é tão “boa” para todos no Brasil, e que o “problema” que levanto aqui pode até soar ridículo para alguns – por ser menor. Minha intenção, com esse texto, é apenas tentar mostrar que a vida sempre pode ser menos complicada e mais racional do que imaginam as elites mal-acostumadas no Brasil.


(FAÇO MINHAS AS PALAVRAS DELA)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Apresentador é demitido ao ser pego "bebendo" em noticiário

G1, Blaneta Bizarro – São Paulo


O apresentador finlandês Kimmo Wilska foi demitido após ser flagrado com uma cerveja em um programa ao vivo da emissora "YLE". Após uma reportagem sobre o consumo da bebida, Wilska fez uma brincadeira e simulou estar bebendo no estúdio, segundo o jornal inglês "Metro".


A brincadeira era para ficar restrita aos colegas da emissora. No entanto o apresentador não teve tempo de esconder a garrafa e acabou flagrado bebendo ao vivo quando as imagens retornaram ao estúdio. Constrangido, ele derramou bebida sobre o terno enquanto tentava esconder a garrafa.


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Finlândia busca relevância com "diplomacia da sauna"

DA REUTERS
A Finlândia pode não ocupar o topo das potências globais, mas quando se fala em lidar com importantes assuntos internacionais, ninguém sua tanto quanto os finlandeses, literalmente. Há séculos é tradição nesse país entrar em salas cheias de vapor com temperaturas de até 100 ºC.
Recentemente, esse quartinho quente tem servido de extensão a diplomacia finlandesa, que se coloca no centro dos debates entre EUA e União Europeia (UE) ao convidar atores políticos para conversar em úmidas temperaturas.
Heikki Saukkomaa-8.ago.2010/AFP
Homens participam de campeonato internacional de sauna; Finlândia busca relevância com "diplomacia da sauna"
Homens participam de campeonato internacional de sauna; Finlândia busca relevância com "diplomacia da sauna"
Em Washington, a Sociedade Diplomática da Sauna Finlandesa, gerenciada pela embaixada do país, já há alguns anos recebe lobistas, burocratas e outros políticos no relaxante ambiente da sauna da representação. Agora, Jan Store, embaixador finlandês para a UE, foi o anfitrião da primeira sociedade da sauna em Bruxelas, que discutiu em meio ao vapor as políticas e as finanças europeias.
Numa noite recente, o ministro das Finanças finlandês, Jyrki Katainen, o embaixador e alguns assessores receberam jornalistas para mais uma sessão de sauna. Além de cerveja gelada, o grupo pôde se deliciar com a culinária da cultura de sauna do país. Um cozido de batatas, cebolas, peixe e creme. Para complementar, esportes como assunto principal.
Foi na noite anterior ao encontro dos ministros europeus de Finanças. Reforma do orçamento e crise do crédito estavam na agenda. Então, Katainen foi pressionado a apresentar seu ponto de vista sobre os assuntos mais quentes. Ao fim da noite, é justo dizer que os finlandeses tinham convertido alguns ao seu modo super aquecido e relaxante de misturar temas para negócio com uma rotina de cálidos prazeres.
Na manhã seguinte, enquanto os 27 ministros chegavam para a reunião, Katainen aparentava estar extremamente revigorado pelos benefícios da sauna. O vigor é útil, por que a temperatura da crise europeia ainda não diminuiu.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Minha Finlândia

Moro na Finlândia há cerca de 8 anos. Quando cheguei aqui (como acredito que muitos outros imigrantes) eu pensei que tivesse descoberto o paraíso.
A Finlândia é um país lindo, funcional, justo. Um lugar onde a democracia realmente existe: com o menor índice de corrupção  e o melhor sistema de educação do mundo. E isso sendo educação pública! Nem as melhores e mais caras escolas do Brasil conseguem os resultados das escolas públicas finlandesas! 
O clima, que afasta muitos, foi na verdade o que mais me atraiu. A verdade é que eu gosto de frio. Mas mais do que isso, eu amo as quatro estações. As mudanças de clima, os dias ficando mais e mais longos... depois encurtando. O inverno branquinho e os dias longos de verão.
Ok, depois de alguns anos a coisa mudou de figura. 
Eu descobri que muitas vezes o inverno vem sem neve, os dias ficam curtos, cinzas, frios, deprimentes. Chove. A água da chuva congela nas ruas e caminhar vira uma tortura não só física como psicológica. E que quando o verão finalmente vem, pode vir mais chuva. O céu pode ficar nublado, e os dias continuarem frios. 
Que a língua finlandesa é a segunda língua mais difícil do mundo, perdendo apenas para o mandarim. E que muito mais difícil ainda é fazer amigos finlandeses.
Depois da empolgação inicial veio a frustração. Mas depois de algum tempo eu me deparei com a verdade. Não há lugar que seja perfeito, como não há pessoas perfeitas, mas mesmo assim a gente ama. E eu amo a Finlândia. Com todas as suas qualidades e defeitos. A Finlândia não é perfeita, mas é o meu lar.




Foto do fantástico Niklas Sjöblom.