domingo, 31 de outubro de 2010

Como a classe média alta brasileira é escrava do “alto padrão” dos supérfluos

SÁB , 30/10/2010, Revista Época, Blog Mulher 7 por 7, seção Mulheres no Mundo por Adriana Setti

No ano passado, meus pais (profissionais ultra-bem-sucedidos que decidiram reduzir o ritmo em tempo de aproveitar a vida com alegria e saúde) tomaram uma decisão surpreendente para um casal – muito enxuto, diga-se – de mais de 60 anos: alugaram o apartamento em um bairro nobre de São Paulo a um parente, enfiaram algumas peças de roupa na mala e embarcaram para Barcelona, onde meu irmão e eu moramos, para uma espécie de ano sabático.


Aqui na capital catalã, os dois alugaram um apartamento agradabilíssimo no bairro modernista do Eixample (mas com um terço do tamanho e um vigésimo do conforto do de São Paulo), com direito a limpeza de apenas algumas horas, uma vez por semana. Como nunca cozinharam para si mesmos, saíam todos os dias para almoçar e/ou jantar. Com tempo de sobra, devoraram o calendário cultural da cidade: shows, peças de teatro, cinema e ópera quase diariamente. Também viajaram um pouco pela Espanha e a Europa. E tudo isso, muitas vezes, na companhia de filhos, genro, nora e amigos, a quem proporcionaram incontáveis jantares regados a vinhos.


Com o passar de alguns meses, meus pais fizeram uma constatação que beirava o inacreditável: estavam gastando muito menos mensalmente para viver aqui do que gastavam no Brasil. Sendo que em São Paulo saíam para comer fora ou para algum programa cultural só de vez em quando (por causa do trânsito, dos problemas de segurança, etc), moravam em apartamento próprio e quase nunca viajavam.


Milagre? Não. O que acontece é que, ao contrário do que fazem a maioria dos pais, eles resolveram experimentar o modelo de vida dos filhos em benefício próprio. “Quero uma vida mais simples como a sua”, me disse um dia a minha mãe. Isso, nesse caso, significou deixar de lado o altíssimo padrão de vida de classe média alta paulistana para adotar, como “estagiários”, o padrão de vida – mais austero e justo – da classe média europeia, da qual eu e meu irmão fazemos parte hoje em dia (eu há dez anos e ele, quatro). O dinheiro que “sobrou” aplicaram em coisas prazerosas e gratificantes.


Do outro lado do Atlântico, a coisa é bem diferente. A classe média europeia não está acostumada com a moleza. Toda pessoa normal que se preze esfria a barriga no tanque e a esquenta no fogão, caminha até a padaria para comprar o seu próprio pão e enche o tanque de gasolina com as próprias mãos. É o preço que se paga por conviver com algo totalmente desconhecido no nosso país: a ausência do absurdo abismo social e, portanto, da mão de obra barata e disponível para qualquer necessidade do dia a dia.


Traduzindo essa teoria na experiência vivida por meus pais, eles reaprenderam (uma vez que nenhum deles vem de família rica, muito pelo contrário) a dar uma limpada na casa nos intervalos do dia da faxina, a usar o transporte público e as próprias pernas, a lavar a própria roupa, a não ter carro (e manobrista, e garagem, e seguro), enfim, a levar uma vida mais “sustentável”. Não doeu nada.


Uma vez de volta ao Brasil, eles simplificaram a estrutura que os cercava, cortaram uma lista enorme de itens supérfluos, reduziram assim os custos fixos e, mais leves,  tornaram-se mais portáteis (este ano, por exemplo, passaram mais três meses por aqui, num apê ainda mais simples).


Por que estou contando isso a vocês? Porque o resultado desse experimento quase científico feito pelos pais é a prova concreta de uma teoria que defendo em muitas conversas com amigos brasileiros: o nababesco padrão de vida almejado por parte da classe média alta brasileira (que um europeu relutaria em adotar até por uma questão de princípios) acaba gerando stress, amarras e muita complicação como efeitos colaterais. E isso sem falar na questão moral e social da coisa.


Babás, empregadas, carro extra em São Paulo para o dia do rodízio (essa é de lascar!), casa na praia, móveis caríssimos e roupas de marca podem ser o sonho de qualquer um, claro (não é o meu, mas quem sou eu para discutir?). Só que, mesmo em quem se delicia com essas coisas, a obrigação auto-imposta de manter tudo isso – e administrar essa estrutura que acaba se tornando cada vez maior e complexa – acaba fazendo com que o conforto se transforme em escravidão sem que a “vítima” se dê conta disso. E tem muita gente que aceita qualquer contingência num emprego malfadado, apenas para não perder as mordomias da vida.


Alguns amigos paulistanos não se conformam com a quantidade de viagens que faço por ano (no último ano foram quatro meses – graças também, é claro, à minha vida de freelancer). “Você está milionária?”, me perguntam eles, que têm sofás (em L, óbvio) comprados na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, TV LED último modelo e o carro do ano (enquanto mal têm tempo de usufruir tudo isso, de tanto que ralam para manter o padrão).


É muito mais simples do que parece. Limpo o meu próprio banheiro, não estou nem aí para roupas de marca e tenho algumas manchas no meu sofá baratex. Antes isso do que a escravidão de um padrão de vida que não traz felicidade. Ou, pelo menos, não a minha. Essa foi a maior lição que aprendi com os europeus — que viajam mais do que ninguém, são mestres na arte do savoir vivre e sabem muito bem como pilotar um fogão e uma vassoura.


PS: Não estou pregando a morte das empregadas domésticas – que precisam do emprego no Brasil –, a queima dos sofás em L e nem achando que o “modelo frugal europeu” funciona para todo mundo como receita de felicidade. Antes que alguém me acuse de tomar o comportamento de uma parcela da classe média alta paulistana como uma generalização sobre a sociedade brasileira, digo logo que, sim, esse texto se aplica ao pé da letra para um público bem específico. Também entendo perfeitamente que a vida não é tão “boa” para todos no Brasil, e que o “problema” que levanto aqui pode até soar ridículo para alguns – por ser menor. Minha intenção, com esse texto, é apenas tentar mostrar que a vida sempre pode ser menos complicada e mais racional do que imaginam as elites mal-acostumadas no Brasil.


(FAÇO MINHAS AS PALAVRAS DELA)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Apresentador é demitido ao ser pego "bebendo" em noticiário

G1, Blaneta Bizarro – São Paulo


O apresentador finlandês Kimmo Wilska foi demitido após ser flagrado com uma cerveja em um programa ao vivo da emissora "YLE". Após uma reportagem sobre o consumo da bebida, Wilska fez uma brincadeira e simulou estar bebendo no estúdio, segundo o jornal inglês "Metro".


A brincadeira era para ficar restrita aos colegas da emissora. No entanto o apresentador não teve tempo de esconder a garrafa e acabou flagrado bebendo ao vivo quando as imagens retornaram ao estúdio. Constrangido, ele derramou bebida sobre o terno enquanto tentava esconder a garrafa.


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Finlândia busca relevância com "diplomacia da sauna"

DA REUTERS
A Finlândia pode não ocupar o topo das potências globais, mas quando se fala em lidar com importantes assuntos internacionais, ninguém sua tanto quanto os finlandeses, literalmente. Há séculos é tradição nesse país entrar em salas cheias de vapor com temperaturas de até 100 ºC.
Recentemente, esse quartinho quente tem servido de extensão a diplomacia finlandesa, que se coloca no centro dos debates entre EUA e União Europeia (UE) ao convidar atores políticos para conversar em úmidas temperaturas.
Heikki Saukkomaa-8.ago.2010/AFP
Homens participam de campeonato internacional de sauna; Finlândia busca relevância com "diplomacia da sauna"
Homens participam de campeonato internacional de sauna; Finlândia busca relevância com "diplomacia da sauna"
Em Washington, a Sociedade Diplomática da Sauna Finlandesa, gerenciada pela embaixada do país, já há alguns anos recebe lobistas, burocratas e outros políticos no relaxante ambiente da sauna da representação. Agora, Jan Store, embaixador finlandês para a UE, foi o anfitrião da primeira sociedade da sauna em Bruxelas, que discutiu em meio ao vapor as políticas e as finanças europeias.
Numa noite recente, o ministro das Finanças finlandês, Jyrki Katainen, o embaixador e alguns assessores receberam jornalistas para mais uma sessão de sauna. Além de cerveja gelada, o grupo pôde se deliciar com a culinária da cultura de sauna do país. Um cozido de batatas, cebolas, peixe e creme. Para complementar, esportes como assunto principal.
Foi na noite anterior ao encontro dos ministros europeus de Finanças. Reforma do orçamento e crise do crédito estavam na agenda. Então, Katainen foi pressionado a apresentar seu ponto de vista sobre os assuntos mais quentes. Ao fim da noite, é justo dizer que os finlandeses tinham convertido alguns ao seu modo super aquecido e relaxante de misturar temas para negócio com uma rotina de cálidos prazeres.
Na manhã seguinte, enquanto os 27 ministros chegavam para a reunião, Katainen aparentava estar extremamente revigorado pelos benefícios da sauna. O vigor é útil, por que a temperatura da crise europeia ainda não diminuiu.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Minha Finlândia

Moro na Finlândia há cerca de 8 anos. Quando cheguei aqui (como acredito que muitos outros imigrantes) eu pensei que tivesse descoberto o paraíso.
A Finlândia é um país lindo, funcional, justo. Um lugar onde a democracia realmente existe: com o menor índice de corrupção  e o melhor sistema de educação do mundo. E isso sendo educação pública! Nem as melhores e mais caras escolas do Brasil conseguem os resultados das escolas públicas finlandesas! 
O clima, que afasta muitos, foi na verdade o que mais me atraiu. A verdade é que eu gosto de frio. Mas mais do que isso, eu amo as quatro estações. As mudanças de clima, os dias ficando mais e mais longos... depois encurtando. O inverno branquinho e os dias longos de verão.
Ok, depois de alguns anos a coisa mudou de figura. 
Eu descobri que muitas vezes o inverno vem sem neve, os dias ficam curtos, cinzas, frios, deprimentes. Chove. A água da chuva congela nas ruas e caminhar vira uma tortura não só física como psicológica. E que quando o verão finalmente vem, pode vir mais chuva. O céu pode ficar nublado, e os dias continuarem frios. 
Que a língua finlandesa é a segunda língua mais difícil do mundo, perdendo apenas para o mandarim. E que muito mais difícil ainda é fazer amigos finlandeses.
Depois da empolgação inicial veio a frustração. Mas depois de algum tempo eu me deparei com a verdade. Não há lugar que seja perfeito, como não há pessoas perfeitas, mas mesmo assim a gente ama. E eu amo a Finlândia. Com todas as suas qualidades e defeitos. A Finlândia não é perfeita, mas é o meu lar.




Foto do fantástico Niklas Sjöblom.